Internação em UTI e diagnóstico de autismo: colaboradoras recordam momentos de superação que enfrentaram com a maternidade

10 de maio de 2023 - 09:23

Assessoria de Comunicação da Rede Sesa
Texto: Bárbara Danthéias e Juliana Marques
Fotos: Ascom e acervo pessoal


A enfermeira Solange Ferreira enfrentou complicações na gravidez e no pós-parto do filho

A vida de Solange Ferreira mudou para sempre após o ano de 2007. A então enfermeira do Hospital São José (HSJ), unidade da Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa), teve uma gravidez tranquila até o quinto mês, quando apresentou sintomas de artrite. A indisposição e o mal-estar pioraram e, após a realização de exames, já no oitavo mês da gestação, ela recebeu o diagnóstico de síndrome de Hellp — complicação obstétrica grave, que pode causar a morte da mãe e do filho.

passo seguinte foi realizar uma ultrassonografia para verificar os batimentos do bebê, que estavam fracos. No dia 6 de fevereiro de 2007, Solange foi encaminhada para uma cesárea de urgência em um hospital particular de Fortaleza. Seu filho Antônio, hoje com 16 anos, chegou a passar 22 dias na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) neonatal. “Ele nasceu com parada respiratória, foi reanimado e intubado. Foi aí que começou a minha luta”, lembra.

A enfermeira também precisou ser internada e ficou mais de 40 dias na UTI, onde enfrentou diversas complicações, como hemorragias, insuficiência renal e síndrome do desconforto respiratório agudo (Sara), o que levou à necessidade de intubação.

Solange só foi conhecer o filho cerca de dois meses após o parto, quando saiu da UTI. Hoje, ele tem 16 anos

“Quem fez o procedimento foi o doutor Jovino Oliveira, que trabalha aqui [no HSJ] e com quem eu trabalhei também. Fiquei muito tranquila, porque eu sabia que era uma pessoa que iria fazer tudo de forma adequada”, relata.

Solange só foi conhecer o filho cerca de dois meses após o parto, quando saiu da UTI. Antônio foi levado até o leito de Enfermaria para melhorar o ânimo da mãe, depois de vários dias de luta, sofrimento e dor. Ela conta que, à época, sequer tinha forças para segurá-lo nos braços.

“Eu pensava no meu filho e agradecia a Deus, pois, com 20 dias, ele foi para casa. Fiquei em paz, porque ele estava com minha mãe, sendo extremamente bem cuidado. Foi tudo muito difícil, mas, para mim, era bem mais fácil do que para ele, como criança. Eu queria que ele estivesse bem”, enfatiza.

Apoio dos colegas

Durante a internação, Solange contou com o suporte de vários colegas profissionais da saúde — entre enfermeiros, fisioterapeutas e médicos —, que a visitavam e a ajudavam. “Se eu disser ‘obrigada’ até o dia da minha morte, não seria suficiente diante do carinho e o amor que eles tiveram por nós. Os mascotes da UTI somos eu e o Antônio”, brinca.

Após vencer o transtorno de estresse pós-traumático (TEPT), ela passou a atuar como assessora técnica na Gerência de Enfermagem. “Estar de volta ao São José, para mim, é uma vitória. Eu superei muitas coisas para estar aqui, porém, hoje eu ando nos corredores, entro nas unidades e não sinto mais nada. Eu voltei para minha casa”, celebra.

Mãe e avó

Elis Regina Aragão (à esquerda, de branco, entre os filhos), gerente de Projetos da Escola de Saúde Pública do Ceará (ESP/CE), autarquia vinculada à Sesa, é mãe de Felipe (28), Paulo Victor (26) e Ana Carolina (23).

Quando a mais nova tinha 15 anos, uma novidade mudaria a vida de toda a família para sempre. A adolescente descobriu que estava grávida. Elis já trabalhava na ESP quando recebeu a ligação da filha contando sobre a gestação. “Lembro que eu estava numa das salas do anexo da Escola quando ela me ligou chorando para dizer. Foi um choque para mim”, recorda.

Sem a ajuda do pai do bebê, Carolina via na mãe sua única fortaleza. A mulher que estava com ela em todos os momentos seria seu suporte dali em diante. A gravidez foi tranquila e Arthur Aragão nasceu saudável, fruto de parto cesáreo.

Naquele momento, Elis se viu mãe de três e também do neto. Era ela quem trocava, alimentava e dava banho. O berço do bebê, inclusive, ficava em seu quarto. Todo esse esforço tinha um objetivo: a filha não podia largar os estudos. “Lembro que ela tinha até receio de que o Arthur não a reconhecesse como mãe, mas eu sempre fiz questão de deixar bem claro que eu era a sua avó”, explica.

Quando Elis enfrentou um câncer de tireoide, Carolina (de verde à direita) desabrochou de vez para a maternidade. Enquanto a mãe se recuperava de alguns procedimentos cirúrgicos, o instinto materno falou mais alto e a filha passou a ter o controle da rotina de Arthur, mesmo com o desafio de adaptar tudo às suas atividades escolares.

Após o tratamento bem sucedido e a cura, a colaboradora da ESP encontrou um novo desafio. Quando o neto tinha um ano e cinco meses, foi diagnosticado com transtorno do espectro autista (TEA).

Inquieta e com vontade de sempre fazer algo a mais, a avó, formada em Odontologia, matriculou-se numa especialização sobre autismo, sendo a única dentista entre psicólogos, terapeutas ocupacionais e fonoaudiólogos. No primeiro dia de aula, a coordenadora ficou curiosa para saber o motivo de seu interesse pelo curso. “Estou aqui por causa do meu neto”, ela respondeu. Os estudos ajudaram Elis a entender o funcionamento do cérebro de Arthur e a estimulá-lo de forma adequada.

Atualmente, Carolina cursa o último semestre de Enfermagem e o filho, com sete anos, evolui a cada dia mais por meio das terapias. Chama Carolina de mãe e Elis de vovó.