Seminário no HSJ destaca importância da promoção de políticas públicas em saúde para PcDs
17 de junho de 2024 - 11:24
Assessoria de Comunicação do HSJ
Texto e fotos: Bárbara Danthéias
Anticapacitismo em foco: tema do evento foi proposto pelo Conselho Federal de Serviço Social para todos os conselhos regionais do Brasil
Com vistas à promoção de um atendimento de saúde qualificado para as pessoas com deficiência (PcD), o Hospital São José (HSJ), unidade da Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa), realizou, nesta sexta-feira (14), no Auditório Dom Antônio de Almeida Lustosa, o seminário Anticapacitismo em foco: promovendo a inclusão no ambiente hospitalar. De iniciativa da equipe do Serviço Social do HSJ, o evento contou com a presença de especialistas no assunto e promoveu debates acerca das políticas públicas voltadas para a população com deficiência.
Segundo a gerente do Serviço Social do HSJ, Elisabeth Amaral, o seminário simboliza um esforço para elevar o patamar de consciência dos profissionais acerca do tema do anticapacitismo. “Com esse evento, esperamos empreender as lutas necessárias, junto a todas as categorias, para que possamos trabalhar as barreiras atitudinais e físicas que interferem no processo de atendimento e negam esses direitos, mesmo que não seja de forma proposital”, destacou Elisabeth Amaral, gerente de Serviço Social do HSJ.
O assistente social Marcos Rodrigues, articulador na Política da Pessoa com Deficiência no campo da Cultura, apresentou um apanhado histórico sobre o capacitismo ao longo dos séculos. “A Revolução Industrial pregava o “time is money”, tempo é dinheiro. Todo mundo tem que produzir no mesmo tempo, mas ninguém tem o mesmo padrão de funcionalidade. Esses padrões vão fazendo com que a pessoa se torne uma máquina do processo, então as pessoas com deficiência passam a ficar relegadas”, contextualizou.
O assistente social Marcos Rodrigues ministrou a conferência de abertura “Saúde sem barreiras: promovendo anticapacitismo e letramento acessível”; evento contou com tradução simultânea em Libras
O assistente social também criticou a “terceirização” no atendimento à pessoa com deficiência. “Quando o atendimento é para mim, as pessoas nunca se remetem a mim. Elas sempre falam com quem está comigo, terceirizando a minha pessoa”, relatou Rodrigues, que possui baixa visão. Para ele, é preciso que o profissional busque alternativas de comunicação, como o uso da Língua Brasileira de Sinais (Libras) para pessoas surdas ou da linguagem simples para pessoas com deficiência intelectual.
Anticapacitismo na Política de Saúde
Na mesa redonda “Anticapacitismo na Política de Saúde: diálogos sobre a intersecção entre a importância do tema e as estratégias institucionais realizadas”, Estrela Rodrigues, coordenadora de Políticas Públicas para PcD da Secretaria Estadual dos Direitos Humanos (Sedih), pontuou a diferença entre doença e deficiência. “Quando você consegue enxergar que a deficiência é uma característica e não uma definição, você consegue perceber essa pessoa como um sujeito de capacidades, e não de limitações”, avaliou.
A coordenadora também abordou a crença capacitista de que uma pessoa com deficiência não pode cuidar do outro. “Isso é uma das maiores características do capacitismo no ambiente hospitalar: quando você observa um PcD e não entende que ela também é um agende de cuidado. O PcD também pode fornecer cuidado e assistência ao outro”, frisou.
Sandra Costa, assistente social do HSJ; Estrela Rodrigues, coordenadora de Políticas Públicas para PcD da Sedih; Mariana Oliveira, presidente do Cedef-CE, e Érika Nobre, assessora técnica da Cedef-Sesa
Érika Nobre, assessora técnica da Célula de Atenção à Pessoa com Deficiência e outras necessidades essenciais (Cedef) da Sesa, elencou algumas das ações desenvolvidas no estado. Foram citados o Curso de Aperfeiçoamento em Órteses, Próteses e Meios Auxiliares de Locomoção, capacitação realizada em parceria com a Escola de Saúde Pública do Ceará (ESP/CE), e o Curso Básico de Assistência à Pessoa com Deficiência na Atenção Primária à Saúde.
“A gente quer sensibilizar e trazer esse conhecimento do acesso do PcD aos equipamentos da saúde e quais são os equipamentos que fazem parte da rede de atenção ao PcD no Ceará, para que possamos, cada vez mais, tirar esse olhar capacitista que existe ainda em algumas situações e tentar diminuir essas barreiras físicas e atitudinais”, acentuou.
Presidente do Conselho Estadual de Defesa dos Direitos da Pessoa com Deficiência do Ceará (Cedef-CE), Mariana Oliveira apresentou o papel do conselho na sociedade, com realização de ações educativas e auxílio na formulação de políticas educativas em órgãos públicos e empresas privadas.
“A partir do momento em que a sociedade está mais educada, ela já entende a pessoa com deficiência fora desse viés capacitista do senso comum — porque, infelizmente, ainda é senso comum —, e isso facilita o nosso trabalho”, explicou. Oliveira também salientou que já não aborda mais o tema na perspectiva da inclusão. “Não falamos em inclusão, porque as pessoas já estão aqui. A sociedade deve se adaptar para garantir cidadania dentro da diversidade”, afirmou.
No período da tarde, houve ainda oficina facilitada pela assistente social do HSJ, Tatiana Pedrosa, e pelo articulador na Política da Pessoa com Deficiência no campo da Cultura, Marcos Rodrigues, na qual os participantes discutiram propostas anticapacitistas para o Hospital São José.