Hospital São José promove a autonomia e a independência de pacientes por meio da Terapia Ocupacional

16 de setembro de 2024 - 10:06

Assessoria de Comunicação do HSJ
Texto: Bárbara Danthéias
Fotos: Bárbara Danthéias/Arquivo HSJ

O HSJ conta com oito terapeutas ocupacionais, que atuam nas unidades de internação e, ainda, no Serviço Especializado de Cuidados Paliativos

Quando um paciente é internado para tratamento de saúde, a autonomia e a independência podem acabar sendo afetadas pela doença e, em razão disso, atividades comuns do dia a dia — como escovar os dentes ou pentear o cabelo — tornam-se mais difíceis de serem realizadas. É nesse momento que entra em ação o terapeuta ocupacional, profissional da área da saúde que busca auxiliar o paciente a retomar as suas funções cognitivas, motoras e sensoriais, utilizando a ocupação humana como recurso terapêutico.

“A Terapia Ocupacional (TO) trabalha em cima da ocupação humana: os afazeres domésticos, o trabalho, o lazer, o autocuidado, a escola. Quando a pessoa está com dificuldade de realizar uma dessas atividades da vida diária (AVDs), a TO vai trabalhar para proporcionar maior independência e autonomia nessa ocupação”, define Márcia Andréa, coordenadora da TO do Hospital São José (HSJ), unidade da Secretaria da Saúde do Ceará referência no tratamento de doenças infecciosas.

Natália [nome fictício], 23 anos, foi uma das pacientes do HSJ que necessitou da Terapia Ocupacional enquanto esteve internada na unidade. Ela passou cerca de três semanas na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) em decorrência de complicações da neurotoxoplasmose, doença neurológica potencialmente grave em pacientes em abandono do tratamento do HIV, como era o caso de Natália. A infecção pode causar diversos sintomas, como perda da força em alguma parte do corpo, dificuldade para caminhar e confusão mental.

A Terapia Ocupacional faz uso de diversos recursos a fim de proporcionar mais autonomia e independência aos pacientes

Por conta da doença, o lado direito do corpo da jovem foi afetado, impedindo-a de realizar movimentos básicos da rotina, como vestir uma camiseta ou escovar o cabelo. “Eu não conseguia levantar a mão. Eu também não conseguia dobrar o joelho e nem levantar. Eu notei diferença por causa do bambolê”, relata, referindo-se à atividade realizada junto à Terapia Ocupacional.

De acordo com a terapeuta ocupacional do HSJ, Elenice Bezerra, é preciso haver a intervenção da TO logo no início da manifestação da doença, para que possa acontecer a neuroplasticidade, que é a capacidade do cérebro de se remodelar em resposta às lesões causadas pela neurotoxoplasmose. “Assim que o paciente começa a acordar e interagir, você começa a fazer a estimulação multissensorial: visão, audição, tato, tudo ao mesmo tempo. Quando ele começa a despertar, você começa a trazê-lo ao ambiente, com estímulos visuais e auditivos, de tocar, sentir e pegar”, destaca.

Atuação da TO com os pacientes críticos

É nesse processo de situar o paciente no ambiente, que a terapeuta ocupacional do HSJ, Marina Queiroz, costuma estar mais presente. Ela é responsável por acompanhar os pacientes internados na UTI e na unidade de cuidados semi-intensivos. “Nós trabalhamos as estimulações com os próprios recursos do paciente: eu uso muito o lençol como atividade de vestir e tirar a roupa, porque eles sentem muito frio ou muito calor, e isso vai dando maior independência a eles”, exemplifica.

A prancha de comunicação é uma ferramenta utilizada pela TO que permite que pacientes traqueostomizados possam expressar suas necessidades

Outra peculiaridade desses pacientes internados em unidades críticas é a dificuldade de comunicação, já que é comum alguns deles estarem traqueostomizados, o que significa que eles passaram por um procedimento cirúrgico que consiste na abertura da traqueia para facilitar a chegada de ar aos pulmões. Nesses casos, a Terapia Ocupacional faz uso da chamada prancha de comunicação, cujo objetivo é permitir que o paciente expresse as suas atuais necessidades.

“Geralmente, na traqueostomia ou na extubação, eles ficam mais ansiosos e nós os acalmamos. Eles perguntam ‘o que eu tenho?’, ‘vou sair cedo daqui?’. Nesses casos, ou eles apontam para a prancha ou usamos a estratégia do olho, com piscadas, ou apertos de mão. De acordo com a leitura labial, organizamos esse pensamento dele para ele ir se tranquilizando e ficando melhor”, explica Marina.

Além da recuperação das funções cognitivas, motoras e sensoriais, a TO também trabalha aspectos sociais, afetivos e espirituais do paciente

Segundo Marina Queiroz, a atuação da TO é ampla e visa não só ao tratamento da doença, incluindo ainda aspectos sociais, afetivos e até espirituais do paciente. Ela conta, por exemplo, que por meio da confecção de terços com os pacientes que se dizem católicos, ela trabalha, ao mesmo tempo, a espiritualidade e a coordenação motora fina. “O nosso cuidado vai além da internação. Nós temos que lembrar que o paciente é o amor de alguém, e ele tem uma vida fora daqui. Por mais que ele esteja em situação de rua ou esteja brigado com a família, ele tem uma família e uma vida, ele é ele, e não uma doença”, afirma.