Hospital São José se destaca em pesquisas sobre Covid-19

11 de agosto de 2020 - 16:37

 

Enquanto seguem na linha de frente para tratar pacientes infectados pelo novo coronavírus, os profissionais da saúde vêm recorrendo à pesquisa científica como importante aliada para mapear a complexidade dos efeitos da Covid-19. No Hospital São José de Doenças Infecciosas (HSJ), unidade da Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa), do Governo do Estado, as pesquisas têm ganhado protagonismo na avaliação dos efeitos da doença e no aprimoramento das possibilidades de tratamento. Ao todo, onze estudos estão em andamento, em diferentes fases de desenvolvimento na unidade.

 

A infectologista e coordenadora do núcleo de pesquisa do HSJ, Melissa Medeiros, destaca que, desde o início da pandemia, o olhar analítico aos dados norteou os movimentos da equipe do hospital. “Desde as pesquisas sobre a hidroxicloroquina, fomos um dos primeiros hospitais a aprovar um projeto na Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (Conep) para avaliar isso”, aponta. A infectologista destaca o caráter multidisciplinar dos estudos, que agregam diferentes especialidades médicas, profissionais de áreas como fisioterapia e também membros da equipe laboratorial. “São pesquisas que estão pensando o tratamento, evolução dos pacientes, graus de complicação”, afirma.

 

Dos onze estudos, uma das análises em fase mais avançada envolve associação medicamentosa que integra coquetel antirretroviral utilizado contra infecção pelo vírus da imunodeficiência humana (HIV). “A hipótese é de que quem estava em terapia antirretroviral apresenta quadro mais leve de Covid”, afirma Melissa, destacando que entre os pacientes com HIV acompanhados pelos HSJ não houve casos graves. Sobre a “eficácia protetora” dessas medicações, a médica adianta o início de outro protocolo, ainda em agosto, para utilizar a medicação na busca de amenizar quadros mais complexos de Covid-19.

 

Na construção desses estudos, o Hospital São José estabelece parceria com diferentes órgãos na busca por avanços. Além da Organização Mundial da Saúde (OMS) e de setores da indústria farmacêutica, a unidade trabalha em conjunto com instituições como a Universidade Federal do Ceará (UFC), em diferentes áreas da endocrinologia e da farmacologia; a Universidade de Fortaleza (Unifor); a Universidade de São Paulo, em Ribeirão Preto (USP), e a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), no Ceará.

 

Especialista em Ciência, Tecnologia, Produção e Inovação em Saúde Pública da Fiocruz-CE, Fábio Miyajima afirma que a pandemia acabou acelerando algumas parcerias que estavam sendo projetadas com o HSJ. “Foi um movimento natural e gradativo de desenvolvimento dessas pesquisas com o São José, que já era um interesse da Fiocruz”, pontua. Entre as análises com atuação conjunta entre as instituições, um estudo fundamental – e também pioneiro – é relativo aos casos de pacientes que têm uma segunda infecção ou remissão do vírus.

 

“O Ceará foi o primeiro estado no Brasil a emitir uma nota técnica documentando o caso de pacientes que tiveram uma recorrência viral ou nova infecção. Agora outros países estão falando a mesma coisa”, afirma Fábio, detalhando o acompanhamento de sete casos de pacientes que viveram mais de uma experiência de convivência com sintomas e testagem positiva para o vírus. “São diferentes casos, como pacientes documentados que no primeiro episódio de Covid não tiveram formação de anticorpos e a doença voltou de forma mais grave e só depois houve essa formação de anticorpos”, explica.

 

Fábio avalia que a pandemia vem fornecendo importantes materiais que podem ser desdobrados em pesquisas científicas. “São muitos dados gerados juntos com o Hospital São José. Muitos testes laboratoriais sendo feitos. Tem muito material para ser analisado para ver o que foi feito e o que poderá ser aplicado. A pandemia não acabou, ela está itinerante, mudando de CEP e tem recorrência como estamos vendo na Alemanha, no Japão, na Austrália”, analisa o pesquisador.