Com serviços gratuitos, SUS garante atendimento para pessoas de diferentes classes sociais

14 de setembro de 2020 - 13:14

 

A Pesquisa Nacional de Saúde do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), divulgada no último dia 4 de setembro, mostrou que nove a cada dez nordestinos dependem exclusivamente do sistema público de saúde. A constituição brasileira prevê que qualquer pessoa pode ir a uma Unidade Básica de Saúde ou a um hospital para receber atendimento de graça. Ao longo dos anos, o Sistema Único de Saúde (SUS) tornou-se referência no tratamento de diversas doenças e no fornecimento de medicamentos da atenção primária a casos de alta complexidade.

 

Apesar de ser usuário de plano de saúde, o educador físico Fabieldo Mota precisou de tratamento no SUS. Diagnosticado em 2016 com cardiopatia viral, uma doença rara que enrijece o coração e pode causar um mal súbito, ele precisou de transplante no Hospital de Messejana Dr. Carlos Alberto Studart Gomes, unidade da Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa), do Governo do Ceará.

 

“Eu tinha um olhar de desconfiança ao atendimento do SUS, mas depois do meu tratamento eu só tenho a elogiar. Tudo que puderam fazer por mim foi feito no prazo certo, com o atendimento absolutamente organizado, ninguém furou fila, não importa quem seja. Eu sempre faço questão de falar que o tratamento que eu fiz foi pelo SUS”, afirma Fabieldo, que hoje leva uma vida normal, inclusive praticando judô, esporte que ele ensina.

 

Além do acesso gratuito a imunossupressores, medicamentos usados para suprimir a rejeição do órgão em pacientes transplantados, o educador físico também tem garantidas, a cada três meses, passagens aéreas de Teresina, sua terra natal, ao Ceará pelo Tratamento Fora do Domicílio (TFD). O programa do SUS prevê ajuda de custo para pacientes que só têm acesso a tratamentos fora do município ou estado em que reside.

 

O Brasil tem o maior sistema público de transplantes. Segundo o Ministério da Saúde, 96% dos procedimentos são custeados pelo SUS. “Se não fosse o SUS, só teria acesso ao transplante quem tivesse recursos financeiros. Além disso, o sistema garante assistência ao paciente por completo, do pré-transplante e por toda a vida”, destaca Eliana Barbosa, coordenadora da Central Estadual de Transplantes do Ceará.

 

 

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Medicamentos e tratamentos gratuitos

 

Além dos transplantes, o SUS está à frente do tratamento integral de inúmeras doenças, sendo referência para o mundo pela atuação em muitas delas, como HIV/AIDS, tuberculose, hepatites e hanseníase.

 

“A Hepatite C, por exemplo, é um tratamento caro. Um brasileiro que sobrevive com uma renda média não teria acesso a esse tratamento se não fosse o SUS. Além disso, sem o sistema público de saúde, a rede privada jamais abarcaria esse tipo de tratamento”, destaca Elizabeth Amaral, integrante do movimento “Eu Defendo o SUS” e gerente do serviço social do Hospital São José de Doenças Infecciosas, unidade da Sesa.

 

De acordo com dados do Ministério da Saúde de 2019, 585 mil pessoas que vivem com o vírus HIV no País realizam a terapia antirretroviral em unidades da rede pública de saúde. A assistência oferecida pelo SUS a esses pacientes independe da carga viral. O uso regular dos antirretrovirais é fundamental para aumentar o tempo e a qualidade de vida das pessoas que vivem com HIV e reduzir o número de internações e infecções por doenças oportunistas.

 

No mês de julho, o custo com medicação de HIV no Hospital São José foi de R$ 1.984.951,83. Por dia, a unidade recebe uma média de 250 pacientes, que vão ao HSJ fazer a retirada do medicamento.

 

A profissional autônoma Carla (nome fictício), de 25 anos, acompanha de perto o tratamento do sogro, 60, e da sogra, 58, que tratam o HIV há dois anos na unidade. “Eles não podem ficar sem tomar os medicamentos, porque tem o perigo de piorar tudo de novo. Sem o SUS seria muito caro para fazer o remédio manipulado, não seria acessível para a gente”, aponta. Além da convivência com o vírus, a sogra de Carla teve uma paralisia cerebral que afetou o lado direito do corpo dela, deixando-a numa cadeira de rodas. “Ela não tem condição de se movimentar bem, imagina se ela tivesse que pagar por todos os remédios e exames? Como ela faria?”.

 

O professor do curso de medicina e da pós-graduação em Saúde Coletiva da Universidade Estadual do Ceará (Uece), Marcelo Gurgel, destaca a assistência integral à saúde oferecida pelo SUS. “Medicamentos que um ciclo de tratamento é o preço de um automóvel popular, como é o caso de alguns tratamentos de quimioterapia, são fornecidos pelo SUS. O sistema cobre desde o que é básico, na atenção primária, até o que é de alta complexidade”, ressalta.

 

O especialista destaca ainda o desafio do Sistema Único de Saúde de lidar com o surgimento de novas doenças. A pandemia de Covid-19, segundo ele, evidenciou ainda mais o papel do sistema público de saúde. No Ceará, a Sesa ampliou a infraestrutura das unidades hospitalares e destinou 2.951 leitos para o atendimento exclusivo de pacientes diagnosticados com coronavírus entre os meses de abril e junho.